Envelhecer – inatividade ou melhor idade?
Conhecer detalhadamente a identidade ocupacional da pessoa permite ao terapeuta ocupacional promover a saúde através da ocupação, contribuindo para o envelhecimento ativo e um incremento do bem-estar na idade sénior.
Texto de Cristina Benigno, terapeuta ocupacional
O paradigma do envelhecimento ativo, referido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), tem vindo a despertar uma reflexão enriquecedora onde é reforçado que a longevidade deverá ser acompanhada por um investimento na redução dos impactos negativos do envelhecimento.
É aqui que entra a Terapia Ocupacional. Respeitando a identidade ocupacional de cada pessoa, o terapeuta ocupacional empenha-se na luta contra a privação ocupacional, promovendo a saúde física e mental e procurando conduzi-la ao envolvimento em atividades significativas.
O Terapeuta Ocupacional procura não só saber a história de vida da pessoa, como também estar atento a todos os pormenores. Afinal de contas, a identidade ocupacional é tudo o que nos define como pessoas. Os terapeutas ocupacionais são assim especialistas em análise de atividades e na compreensão das exigências ocupacionais.
Terapia Ocupacional – uma intervenção centrada na pessoa
A intervenção de um terapeuta ocupacional passa por promover a ocupação, a saúde e o bem-estar no pressuposto que o envolvimento em atividades significativas, respeitando a identidade ocupacional da pessoa, promove o seu sentido de pertença, autoestima e autonomia, bem como fortalece a sua saúde física, mental e emocional.
O Terapeuta Ocupacional quando intervém num lar ou num domicílio de um paciente preocupa-se em saber todos os pormenores da identidade ocupacional de cada pessoa. Deverá estar atento para que a atividade esteja sempre centrada na pessoa e nos seus interesses e não naqueles em que não tem qualquer identificação. Por exemplo, uma atividade de culinária pode trazer muitos benefícios. Porém, se a pessoa nunca cozinhou na sua vida poderá revelar-se contraproducente e frustrante.
As sessões são cuidadosamente estudadas de forma a incentivar, a motivar e provocar envolvimento ocupacional, entre outras estratégias de intervenção, através:
- 1- Do recurso a trabalhos realizados em conjunto com um tema significativo para a pessoa;
- 2- De técnicas de reminiscência por meio de visualização de fotografias de família, de viagens, de viagens virtuais a museus ou a países, entre outras. Tem como objetivo promover a discussão em torno de memórias de longo prazo e fazendo a “ponte” para memórias recentes, fomentando a identificação de locais conhecidos e identificação temporal de acontecimentos significativos para as pessoas;
- 3- De sessões com música através de compositores de eleição considerando que esta tem um forte impacto no sistema de recompensa;
- 4- De sessões com movimento, considerando que o movimento síncrono com ritmo promove a estimulação vestibular e que também ativa o sistema de recompensa;
- 5- De atividades que promovem o “Flow” como desenhar, cozinhar, tricotar, passear, caminhar (entre outras), as quais são uma ferramenta terapêutica não farmacológica que contribui para a gestão da sintomatologia comportamental.
É assim que, enquanto terapeuta ocupacional, e até enquanto pessoa, defendo a sabedoria do saber envelhecer.
Defendo a sustentação da identidade ocupacional, mantendo um padrão ocupacional ativo através de atividades significativas para cada pessoa, promovendo a sua autonomia e independência durante todo o processo de envelhecimento.
Defendo a abordagem centrada na pessoa. As pessoas para serem felizes independentemente da idade ou do diagnóstico têm de ser compreendidas, aceites e valorizadas. Devem continuar a ter um sentimento de pertença e de se sentirem amadas.
Os idosos do nosso país encontram-se em risco grave de privação ocupacional e pouco envolvimento ocupacional. Entrar na reforma não deverá significar inércia, mas sim continuar a valorizar-se, a ter tempo para atividades que lhe façam sentido como ler, passear, viajar, aprender, ter aulas de teatro, dança ou pintura ou aprender uma língua. Temos de acabar com a cultura que o idoso ou a pessoa que vive com demência (PvD) não pode fazer nada.
Idade, um motivo para celebrar
A idade não deverá ser, por isso, um pretexto para ficar em casa, em frente a uma televisão e centrado nas doenças, nas dores e a pensar no passado.
Uma pessoa de 65 anos hoje tem muitas vezes a forma física e cognitiva de uma pessoa de 45 há trinta anos. Os que têm 75, podem ter as mesmas condições de quem tinha 55 nos anos 1980. Como terapeuta ocupacional é emocionante e gratificante ouvir uma pessoa com 90 anos dizer que ainda tem objetivos de vida.
Envelhecer, ser velho, idoso, maduro, qualquer que seja a palavra que escolhemos, é um privilégio e um motivo de comemoração. Maravilhoso é viver a última etapa de vida como uma celebração.
Porque viver simplesmente é uma bênção!
Saiba mais sobre as vantagens da terapia ocupacional ao domicílio aqui:
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