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Date: Julho 26, 2022

Author: Eu Consigo

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A sociedade está a mudar… e os Avós também!

Texto de Camila Daskaleas

Quando pensamos em avós pensamos num conjunto de atributos físicos, psicológicos e emocionais que constituem, para nós, a sua essência. Os cabelos brancos, as rugas expressivas, a preocupação pela casa confortável, a necessidade de oferecer os cozinhados mais saborosos e as histórias mais mágicas, o tempo sem correria, o mimo, e o abraço de amor incondicional. Estes atributos que tão inconscientemente lhes designamos fazem-nos sentido, geralmente conseguimos associá-los a uma ou mais memórias específicas e imaginar as suas feições, aparência e feitio. Existe, assim, uma ideia geral do que são ou do que deveriam ser os avós e de quais os seus papéis e personalidades atribuídas, que diferem entre o avô e a avó. Quando falamos deles com alguém, subsiste uma imagem pré-concebida no outro a quem nos dirigimos, mesmo sem nunca os ter conhecido. É quase como se o destino dos avós fosse inalterável, determinado. Mas será que este destino permanece imutável ou tem sido desviado ao longo do tempo, juntamente com as alterações de valores e de noção de envelhecimento pela sociedade em geral?

A resposta a esta pergunta é simples. Sim, os avós estão a mudar. Os avanços a nível da saúde e a possibilidade de curar ou reabilitar as pessoas seniores de condições anteriormente consideradas fatais ou debilitantes – através, por exemplo, dos avanços da medicina e das técnicas e estratégias cada vez mais conhecidas da Terapia Ocupacional -, têm um efeito verdadeiramente transformador nas suas vidas, abrindo-lhes portas à possibilidade de envelhecer como desejam. Por consequência, a esperança de vida aos 65 anos aumentou cerca de 45% desde 1970 a 2018 (Pordata, 2022). Sabendo que vivem até mais tarde, existe uma considerável preocupação na forma como o envelhecimento dos avós e das pessoas seniores em geral é levado a cabo e, simultaneamente, esta preocupação contribui para uma maior longevidade.

Avós capazes e positivos

Há, portanto, um maior enfoque na importância de ter um envelhecimento ativo e a mentalidade de que a velhice é algo negativo a ser reprimido e escondido entre as quatro paredes parece cada vez mais distante. Progressivamente, tem-se assistido a um entendimento de que as pessoas seniores são capazes e competentes para trabalhar antes e após a reforma se assim o entenderem, que têm energia e estamina para fazer exercício físico, e que têm interesses diferentes daqueles que normalmente lhes são designados, (habitualmente o dominó ou o croché). O caminho em direção à utopia parece mais próximo: a velhice começa a ser vista como uma oportunidade para o autoconhecimento e autocuidado, não um passaporte para a doença ou para a morte.

Tendo em conta este contexto, torna-se cada vez mais notória uma mudança de comportamentos dos avós. São ativos – quer no mercado de trabalho, quer durante a sua reforma-, são mais conhecedores do meio tecnológico, são mais saudáveis e têm, em geral, mais energia, podendo ter um papel mais participativo na vida dos netos, nomeadamente enquanto cuidadores, já que os pais trabalham até tarde e deixam os filhos com os avós depois da escola ou nas férias escolares.

Avós sem preconceitos

A nível de imagem, teremos notado que, gradualmente, começamos a ver avós com aparências diferentes. Cabelos pintados – de cores neutras ou mais vivas – (ou até cabelos assumidamente grisalhos desde mais cedo!), estilos de roupa mais divertidos e coloridos, maquilhagem mais notória e até algumas tatuagens. Esta mudança será talvez a que mais “desvia olhares”, havendo, por vezes, uma sensação de que algo não bate certo. As ideias idadistas impostas ao longo da nossa vida, no seio familiar, escolar, profissional e mediático levam-nos a ficar agarrados a ideias do que é certo ou errado, ou antes adequado e desadequado para cada faixa etária. A crescente reflexão sobre estes preconceitos que todos nós temos até certo ponto tem-se traduzido numa maior abertura para que as pessoas seniores e, em particular, os avós sintam mais liberdade para se expressarem através da sua aparência, ao invés de se tentarem esconder dos olhares de desaprovação. Há uma brecha que se abre que permite que os avós saiam do modelo que lhes é expectado e sejam eles próprios. Isso, por consequência, aproxima-os dos seus netos que sentem que os conhecem melhor: os seus gostos, a sua identidade, a sua expressão no mundo.

Em suma, os avós estão a mudar para melhor. O aumento da sua qualidade de vida e da presença em sociedade permite-lhes aprender ao longo da vida, crescer enquanto pessoas e ser atores presentes e ativos na vida dos seus netos, criando conexões mais substanciais e de uma aceção mais profunda. Por outro lado, a presença dos netos nas vidas dos avós tem benefícios incríveis, estimulando-os física e intelectualmente, dando-lhes um sentido de continuidade geracional e partilhando com eles um amor diferente de todos os outros. É isso. Os avós mudam, os netos mudam, mas o que significam uns para os outros isso não muda, nunca vai mudar.

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