Deve o meu pai continuar a guiar?

Quando as “reuniões” familiares acontecem apenas uma ou duas vezes por ano, pode ser uma surpresa verificar como estão todos. Em alguns casos os seus pais podem ter feito novos amigos, iniciarem novas atividades ou planos. Por outro lado, pode começar a verificar que estão a vivenciar alguns desafios no seu dia-a-dia.

Conduzir um carro é uma actividade extremamente complexa que envolve um conjunto variado de competências: boa visão, reconhecer o código da estrada, capacidade de reagir rapidamente, manter-se alerta, entre muitas outras. À medida que as pessoas vão envelhecendo, lidam com doenças crónicas ou experienciam efeitos secundários da medicação, estas competências de condução podem ser afectadas.

Apesar do nosso corpo e cérebro sofrerem alterações com a idade não é esta que determina se a pessoa ainda é capaz, ou não, de conduzir mas sim as capacidades que ela apresenta no presente. Posto isto, observar a condução da pessoa com quem está preocupado e verificar se existem sinais de risco é a melhor forma de começar a avaliar esta questão e determinar se é necessário ter a conversa de “vamos guardar as chaves”.

Como já foi referido, para apresentar um bom desempenho na condução não basta ser capaz fisicamente. Uma condução segura requer competências físicas e cognitivas e uma boa conduta na estrada.

Esteja atento aos sinais e procure perceber se existe de facto ocorrências que não aconteciam antigamente, tais como:

  • – Respostas lentas a situações inesperadas
  • – Distrai-se facilmente enquanto conduz
  • – Começa a sentir-se inseguro quando guia
  • – Tem dificuldade em alterar de faixa ou a manter-se na faixa correcta do trânsito
  • – Roça com as jantes no passeio quando vira para a direita ou para a esquerda
  • – Tem arranhões ou amolgadelas no carro ou na garagem
  • – Tem situações de quase acidente frequentemente
  • – Anda muito depressa ou muito devagar face as condições da estrada

 

 

Pode, por exemplo, combinar ir com ele ao supermercado e ver se surgem situações de perigo. Se verificar que a pessoa apresenta algum destes sinais está na altura de falar com ela sobre o assunto.

Como abordar este tema sensível e ter uma conversa produtiva?

Muitos idosos ficam ofendidos, na defensiva ou até mesmo zangados quando lhe é pedido que deixem de conduzir. Isto porque a condução é um grande sinal de independência e controlo.

Talvez o seu pai já está a vivenciar problemas de saúde que não consegue contornar e pedir-lhe que deixe de conduzir será outro “golpe no estômago”. Para além disto tudo, ele pode sentir que ficará encurralado em casa caso tenha que deixar de conduzir.

Esta conversa provavelmente será difícil e terá que assumir o papel de “mau da fita”, por isso é fundamental que tenha a certeza que este é o passo a seguir. Com o tempo a fúria passa e bem lá no fundo ele sabe que tudo isto era necessário, mesmo que não admita. Dê-lhe algum tempo para que possa aceitar a situação.

O que fazer depois?

– Quando abordar o tema exponha as suas preocupações. Se verificou anteriormente sinais de risco numa ida, por exemplo, ao supermercado, relembre essa viagem e as situações de perigo para que a pessoa saiba exactamente do que está a falar.

– Comece por pedir-lhe que realize exames de rotina explicando ao médico as suas preocupações. Alguns problemas de desempenho podem estar relacionados com a medicação e, por esse motivo, talvez possam ser contornados.

Em Cascais, no Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão, existe um centro de mobilidade onde pode realizar um exame e determinar se a pessoa está apta ou não para continuar a conduzir. Este exame tem um custo de 150€. Como já foi referido, é importante que não tome decisões precipitadas e que tenha a certeza que deixar de conduzir é de facto o único caminho.

Procure alternativas, e se puder, experimente cada uma delas. Assim saberá explicar as vantagens e desvantagens de cada uma.

  • – Para além dos transportes públicos, táxis e aplicações como a Uber e Taxify (que caso se tornem uma opção deve ensinar-lhe a usá-las), investigue se na sua região existe transportes gratuitos para combater o isolamento social.
  • Por exemplo, em Oeiras existe o projeto “Rotas” para pessoas com mais de 55 anos e que se destina a “possibilitar deslocações inerentes à vida quotidiana como centros de saúde ou hospitais, farmácias ou correios, assim como outros percursos que promovam a integração e autonomia, como ir às compras ou visitar um amigo, dentro do território de Oeiras” (saiba mais aqui). Em Alcântra existe o transporte “azulinho” que foi criado com o mesmo propósito (saiba mais aqui).

Seja compreensivo e dê-lhe algum tempo para aceitar. Poderá ser necessária mais que uma conversa antes de eles estarem prontos a “pendurar as chaves” definitivamente uma vez que se trata de uma grande mudança nas suas vidas.

Fontes:

www.aarp.org

www.sixtyandme.com

www.cm-oeiras.pt

www.jf-alcantara.pt

www.caring.com

 

Joana Emauz Madruga

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Joana Emauz Madruga

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