Neste contexto, a profissão de terapeuta ocupacional começa a ganhar, também em Portugal, uma considerável visibilidade.
Primeiro, porque estes profissionais estão habilitados a avaliar as casas, identificando os riscos e obstáculos e recomendado as adaptações mais adequadas à pessoa em questão, tendo em conta as suas características físicas, ocupacionais e até sociais, os seus hábitos, personalidade, competências e limitações.
Depois, porque nos contextos do domicílio os terapeutas ocupacionais podem testemunhar em primeira mão as dificuldades sentidas no desempenho das actividades da vida diária. Entrar e sair da cama, subir e descer escadas, fazer a própria higiene, vestir-se e despir-se, preparar e tomar alimentos, fazer tarefas domésticas, ir à loja ou à igreja, são apenas alguns exemplos. A observação directa desta dificuldade pelo terapeuta ocupacional facilita o aconselhamento e permite o treino de estratégias, adaptações ou equipamentos a adoptar que permitirão à pessoa idosa recuperar autonomia e aumentar a qualidade de vida. Mas sobretudo o terapeuta ocupacional é o profissional que ajuda a melhorar as suas competências, contribuindo activamente para a sua capacitação nas diversas actividades, logo, para a sua crescente autonomia e/ou independência.
Após uma cuidada avaliação do seu perfil ocupacional e dos objectivos que se pretendem atingir, o terapeuta ocupacional delineia uma estratégica terapêutica que é discutida com a pessoa e, se for caso disso, com os seus familiares e outros cuidadores.
Consoante os casos, as abordagens poderão variar entre diversos tipos de treinos, quer físicos quer cognitivos quer sociais, que permitam desenvolver as capacidades necessárias. O terapeuta ocupacional procura reabilitar e/ ou capacitar, através do recurso a actividades do agrado do cliente, com as quais o mesmo esteja familiarizado ou para as quais tenha particular apetência, nomeadamente jogos, realização de trabalhos diversos ou outras actividades de lazer ou produtivas que proporcionem satisfação à pessoa. O limite é a imaginação.
Para além de intervir junto da pessoa idosa, o terapeuta ocupacional tem também um papel importante a desempenhar no aconselhamento dos cuidadores informais, nomeadamente os familiares mais próximos. Alguns aspectos relevantes deste aconselhamento incluem, entre outros:
– Como realizar transferências e posicionamentos em segurança (no caso de pessoas com mobilidade reduzida)
– Como promover a segurança, prevenção de quedas ou protecção articular em casa;
– Como criar e implementar rotinas que permitam uma organização facilitada e estruturada da vida diária;
– Como estimular a capacitação da pessoa, mantendo o foco nas suas capacidades em vez de nas limitações;
– Como estimular e lidar com a pessoa com demência;
– Estratégias para evitar a exaustão do cuidador
Abrir as portas de casa a um terapeuta ocupacional é um passo fundamental para proporcionar à pessoa idosa um envelhecimento com qualidade, sentimento de competência, resistência à frustração, segurança e motivação para viver. Para os cuidadores, esta pode ser uma das chaves para aliviar a pesada carga física e emocional que carregam. Razões mais que suficientes para que estes profissionais sejam integrados nas estratégias municipais e nacionais de promoção da saúde.