fbpx

Date: Agosto 29, 2018

Author: Eu Consigo

Tags:

No Comments »

Não sai muito da rotina? É bom sinal.

Texto de: Catarina Ramalho, Terapeuta Ocupacional

Apesar dos inúmeros convites para que se saia da rotina, a maioria das pessoas não o faz assim tantas vezes. Isso pode ser bom, principalmente para a nossa saúde mental. Mas o que existe afinal assim de tão positivo numa rotina equilibrada?

Somos seres de hábitos. Dependendo da cultura em que estamos inseridos, realizamos uma série de actividades no nosso dia-a-dia que vão de acordo com a nossa profissão, obrigações, família, hobbies, entre outros. Estes parâmetros inserem-se numa cultura que estrutura a sequência de etapas pelas quais a nossa vida passa. A nossa rotina será invariavelmente diferente se eu for do Oriente em vez de ser portuguesa e a minha cultura esperará que eu me envolva numa determinada rotina que corresponde à fase da vida em que estou.

Sem dúvida que o “sair da rotina” é uma óptima ideia se a escolha for nossa e de carácter temporário. O malefício de não ter rotina acontece quando não é uma decisão deliberada.

Quando a pessoa não é capaz de organizar a própria rotina, a sua saúde mental é afectada. A ansiedade aumenta pois a pessoa vê uma série de actividades para fazer, actividades essas pelas quais é responsável e que não consegue desempenhar em nenhum momento do seu dia. Consequentemente as obrigações vão se empilhando, umas sobre as outras, até que a torre começa a desmoronar, aumentando a angústia, prejudicando a percepção que a pessoa tem de si mesma, considerando-se incapaz ou irresponsável.

Em qualquer caso de perturbação mental pode ocorrer uma dificuldade em organizar a rotina. Eis alguns exemplos:

– Transtorno depressivo maior

– Défice cognitivo ligeiro

– Crise psicológica

– Comportamentos aditivos/dependentes

– Perturbações da ansiedade

– Stress pós-traumático

Na maior partes dos casos, esta dificuldade em estruturar a rotina, ocorre em situações de stress, de mudança repentina (ter filhos, começar um negócio) de alteração do meio ambiente (mudar de casa, trabalho, país etc) ou em casos com diagnóstico de défice cognitivo e/ou diagnóstico de perturbação mental

Noutras situações, a pessoa não tem um papel activo sobre a sua rotina e não se envolve nas actividades que mais gosta de realizar. Isto acontece, principalmente, em situação de doença ou institucionalização. Por outro lado, algumas pessoas não organizam o seu tempo de forma a participarem em diferentes actividades. Por exemplo, têm grande parte do seu dia preenchida apenas por tarefas relacionadas com a sua profissão, não tendo tempo para se envolverem em hobbies ou passar momentos com a família, vivendo sob constante stress.

Todas estas situações espelham o “Desequilíbrio Ocupacional”.

O acompanhamento de um terapeuta ocupacional e de um psicólogo é fulcral para que a pessoa seja capaz de tomar decisões, assimilar os seus papéis e ocupações e organizar a sua rotina.

Nestas circunstâncias, o terapeuta ocupacional avaliará o contexto no qual a pessoa se insere, compreendendo com a mesma, quais os factores dificultadores do equilíbrio ocupacional. A intervenção poderá passar também pela família ou pessoas mais próximas do cliente, sendo que estas irão auxiliar no processo terapêutico.

É importante que a intervenção promova a valorização da identidade ocupacional, dos papéis e das rotinas. O trabalho conjunto entre os dois profissionais passará por ensinar estratégias de coping e de organização e estratégias durante o desempenho em ocupações. Ocupações que, sendo significativas, irão estimular a remotivação, a capacidade de decisão, do sentimento de competência-eficácia, a resolução de problemas e a estrutura de prioridades. É importante que o foco dos objetivos de intervenção seja que a pessoa volte a ser capaz de ter um papel ativo na sua rotina, envolvendo-se num leque de ocupações significativas e desempenhando todas as atividades necessárias à sua vida. Assim, com um dia-a-dia equilibrado e a fazer o que é mais importante para nós, voltamos a percecionar o nosso “eu” com mais auto-estima, promovendo uma boa saúde mental.

 

Leave a Comment