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Date: Maio 23, 2018

Author: Eu Consigo

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Desafios do cuidador

Cuidar: entre o Amor e o Cansaço

Autoria de Cristina Rodrigues, Psicóloga

 

 

 

 

 

 

 

 

O ato de Cuidar de alguém é uma expressão do amor que lhe temos. Cuidar é uma palavra que tem vários significados e cuidar é um ato que pode ser posto em prática de várias formas.

Cuidamos dos filhos, ou das crianças em geral, cuidamos de nós, da nossa relação conjugal, cuidamos do outro. Quando alguém que amamos está doente ou precisa de ajuda, somos rápidos a dizer que estamos disponíveis e que queremos ser o cuidador. Mostramos assim àquela pessoa, e aos que nos rodeiam, que a amamos e que tudo faremos para que esteja bem.

Algumas vezes este momento é curto porque, felizmente, a dependência que a pessoa tem é transitória. E o tempo que passamos enquanto cuidadores traz poucas consequências à nossa vida. Umas noites mais mal dormidas ou uns dias mais exigentes do que a correria que já vai sendo normal na atualidade. Mas tudo passa e o cuidador deixa de o ser rapidamente.

A realidade é outra quando a dependência não é temporária. E, pelo contrário, tem muitas probabilidades de ir aumentar. Enquanto cuidadores, nestas situações, a demonstração do amor quer ser ainda maior, porque a pessoa a nosso cargo precisa de nós, está em sofrimento por estar dependente e em sofrimento por, muitas vezes, saber que não vai ficar melhor. Sofremos por saber do sofrimento físico, por saber da irreversibilidade da dependência, por vermos alguém que amamos vivenciar um estado que nunca pensámos verdadeiramente que pudesse vir a acontecer. Sofremos pelo amor que lhe temos e queremos, por isso, ser os melhores cuidadores.

E se sofrer cansa, emocional e fisicamente, cuidar, nestas condições, também. As exigências são muitas, as aprendizagens necessárias a cuidar bem também são em grande número e é exigido muito “jogo de cintura”. Esta expressão pretende transmitir não só capacidade de adaptação às situações vividas, mas também tolerância à frustração de muitas vezes procurar respostas e não as encontrar, e uma necessidade real de tentar construir um fio condutor que ajude a levar o barco a bom porto.

Cuidar é também, muitas vezes, um ato solitário. O cuidador e a pessoa alvo de cuidados vivem, tantas vezes, situações únicas que poucos perceberão, que poucos vivenciarão e que poucos têm, até, a disponibilidade de aceitar. O cuidador ouve, infelizmente muitas vezes, frases feitas ou comentários desnecessários e desadequados por parte de quem o rodeia, pessoas que não conseguem entender todas as dimensões da palavra e do ato de cuidar.

Por sentir que não é entendido, o cuidador evita deixar de o ser. Sofre pela ideia de o substituto não conseguir fazer o que o cuidador faz, nem com a mesma qualidade nem com o mesmo amor. Insiste no seu papel e, muitas vezes, para além do limite do fisicamente e emocionalmente aceitável. Recusa ajuda e mantém-se sozinho no seu lugar, às vezes até com raiva de quem tente chegar com ajuda. Ou porque já chega tarde, ou porque as experiências foram muitas e más, ou porque o sofrimento é tão grande que isola o cuidador e este perde um pouco das relações interpessoais.

Cuidar é amor e cansaço. Muito amor e muito cansaço. Não é só ao cuidador que cabe cuidar. O cuidador precisa de ser cuidado. Precisa de estratégias que apoiem, que existam e dêem respostas reais, sólidas. Mas pode precisar também de deixar a ajuda entrar. Pode precisar de acreditar que a ajuda vai conseguir ser uma boa substituta do seu trabalho, do seu amor. E que diminua o seu cansaço.

2 Responses to “Desafios do cuidador”

  • Tatiana PalmaJunho 11, 2018 at 4:52 pm Responder

    Aqui está um grande texto. Parabéns

    • Eu ConsigoJunho 11, 2018 at 5:24 pm Responder

      Gratos pelo seu comentário, Tatiana Palma.

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