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Date: Janeiro 11, 2019

Author: Eu Consigo

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Como prevenir o Burnout do cuidador nos cuidados de pessoas com demência

Neha Sinha, uma psicóloga clínica partilha a sua visão sobre os cuidados de pessoas com demência, os efeitos que têm quando os mesmos são realizados por um longo período de tempo e como manter o equilíbrio e evitar o burnout.

Cuidar de uma pessoa com demência é, em diferentes vertentes, um desafio maior que cuidar de alguém com uma condição física. Isto acontece porque quando se cuida de uma pessoa com demência acabamos por investir parte de nós.

Devido à complexidade dinâmica dos vários sintomas da demência – sendo que alguns deles são de natureza psiquiátrica – torna-se muito difícil convencer a nós próprios que a Demência não se trata de um ‘problema de saúde mental’ mas sim de uma disfunção neurológica. Porque é que isto é relevante? Porque desta forma as expectativas dos cuidadores podem ser adaptadas e permite ao cuidador perceber que, tal como acontece em casos de disfunções físicas, também nestes casos há muito pouco que o paciente possa fazer para controlar/melhorar a sua condição. Compreender isto é fundamental para se iniciar a longa e exaustiva viagem que é cuidar de uma pessoa com demência.

Os desafios

O que é que torna a viagem tão complicada? Não só os filhos que cuidam dos pais mas também os cuidadores profissionais consideram que esta é uma actividade cansativa, desafiante, um processo moroso mas acima de tudo uma experiência emocionalmente esgotante. Trata-se de uma actividade que requer paciência e até mesmo instinto. Instinto porque por vezes, mesmo com os concelhos dos melhores profissionais, é o cuidador que conhece melhor a pessoa e a situação em que se encontra e percebe o que funciona melhor ou pior.

Quando as competências de comunicação, da pessoa com demência, são afectadas surgem alterações de humor repentinas, episódios de questões colocadas repetidamente e comportamentos agitados. Nesta altura o cuidador precisa de novas técnicas para convencer a pessoa ao cuidado a tomar banho, explicar porque é que não pode ir para casa ‘agora’ ou simplesmente motivá-la a sair do quarto.

Independentemente da situação uma coisa é certa: este papel e a função de qualquer cuidador não pode ser feita de forma mecânica. O cuidador tem que querer ajudar a pessoa com demência pois não é algo que se possa treinar ao ponto de conseguir lidar com a pessoa em todas as situações. É necessário que isso surja das qualidades inerentes e das inclinações do cuidador. Por esse mesmo motivo é fundamental que o cuidador cuide de si próprio.

Sintomas de burnout do cuidador

Uma das primeiras coisas que o cuidador deve aprender antes de iniciar este caminho são os sintomas de burnout. Apesar deste se tratar de um termo recente, provavelmente da última década, a prática de cuidar de familiares existe há seculos, especialmente na cultura Indiana. Com as constantes alterações no esquema familiar da India moderna, cuidar do membro sénior da família nos dias de hoje é frequentemente responsabilidade de apenas uma única pessoa.

O burnout do cuidador refere-se à angústia vivida pela pessoa que realiza os cuidados e inclui aspetos objetivos (tempo, própria saúde, etc) e subjetivos (própria reações, perceções, desesperança etc) do processo. Normalmente isto acontece quando alguém assume mais responsabilidades do que aquilo que é capaz de lidar ou quando não tem possibilidade de pedir ajuda externa.

Quais são os sinais?

  • Perda de interesse por atividades pessoais;
  • Aumento da ansiedade;
  • Tristeza, irritabilidade ou sentimento de desespero
  • Indiferença
  • “Descarregar” na pessoa ao cuidado mesmo sabendo que este não tem culpa;
  • Descurar a própria saúde ou ficar frequentemente doente;
  • Isolamento social
  • Pobre funcionamento familiar
  • Padrões de sono pobres ou irregulares
  • Fadiga ou falta de energia
  • Sente-se vitimizado

 

Como prevenir?

Como se costuma dizer, prevenir é melhor que remediar.  Iniciar um processo terapêutico pode ser difícil e também pode surgir o sentimento de culpa e outras dinâmicas que dificultam “libertar” a pessoa ao cuidado. Contudo, se surgir essa necessidade, é fundamental a procura da ajuda profissional para saber lidar com a própria recuperação. Afinal ninguém consegue servir a partir de um recipiente vazio.

Aqui estão alguns aspetos a ter presente em mente para prevenir esta situação:

 

  • – Não se sinta culpado por pensar em si próprio: está longe de ser uma pessoa egoísta por isso;
  • – Mime-se, vá a um spa, uma saída com amigos ou simplesmente descansar em casa; você merece;
  • – Peça ajuda: não há vergonha nenhuma em admitir que se trata de um processo que por vezes se torna esmagador e que no outro dia foi-se a baixo. Pedir ajuda profissional ou simplesmente encontrar alguém que o oiça pode fazer maravilhas ajudando-o a sentir-se melhor;
  • – Relativize os seus sentimentos: Não se massacre por se sentir irritado, depressivo ou até mesmo ressentido por estar nessa posição. Sentir-se assim é perfeitamente normal e o primeiro passo é simplesmente aceitar isso;
  • – Dê tempo e a devida atenção ao/à seu/sua companheiro/a e filhos: se sentir preenchido e apoiado estará numa posição muito melhor para ser cuidador.
  • – Lembre-se de rever amigos, mesmo que seja por um curto período de tempo. Se não pode sair, convide-os para irem a sua casa;
  • – Junte-se a um grupo de apoio: fale com pessoas em situações similares. Por vezes saber que existem mais pessoas no mesmo barco pode ser reconfortante.
  • – Eduque-se: muitas vezes, expectativas desadequadas resultam da ignorância. Compreenda o tipo de demência que se trata, saiba o que esperar e o que não esperar especialmente no que concerne a comorbidades, sintomas comportamentais, fases e gestão desses sintomas.

Aspetos positivos da atividade de cuidar

Apesar de muito se ter falado nos aspetos negativos do cuidar tem surgido na literatura recente aspetos positivos relacionados com esta atividade. Sentir-se útil e desejado, a autovalorização, apreciar a vida, desenvolvimento de novas habilidades e relações interpessoais, e características pessoais como extroversão são alguns dos benefícios referenciados nesses estudos.

Cuidar pode ser uma experiência extremamente enriquecedora enquanto nos preparamos para o pior. Este foi um testemunho deixado por um cuidador:

(cuidar é) discutir durante 30 minutos para conseguir que o seu familiar vista meias iguais… e aperceber-me que saí para a rua com a t-shirt vestida ao contrário!

Fonte:

Texto traduzido e adaptado de: How to Prevent Caregiver Burnout in Dementia Care

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