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Date: Agosto 16, 2019

Author: Eu Consigo

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7 truques da terapia ocupacional para “sobreviver” após uma cirurgia

Texto de Patrícia Estudante Protásio

Este verão fui submetida a uma cirurgia ao joelho esquerdo para extracção de um tumor. De repente encontrei-me na posição de muitos dos clientes que procuramos ajudar na Eu Consigo. Foi uma oportunidade única de ver a realidade sob a perspectiva de quem é hospitalizado e, poucos dias depois, regressa a casa sem poder fazer de forma autónoma coisas tão básicas como andar, ir à casa de banho, tomar banho, vestir-se, preparar as refeições ou tratar dos filhos. Felizmente, tenho a sorte de ter sempre por perto um terapeuta ocupacional, o que tornou a minha vida bem mais fácil.

1- Andar de carro

Apesar de morar a apenas 10 minutos de carro do hospital, nunca uma viagem me pareceu tão longa como este regresso a casa. Entrar no carro sem dobrar o joelho é quase impossível. Ajudou sentar-me de costas para o banco e depois rodar lentamente os membros inferiores para o interior do carro, sempre com a perna esquerda apoiada. É importante ter uma altura no chão que permita suster a perna durante a viagem, para reduzir a dor que se sente a cada irregularidade do alcatrão.

Ir à casa de banho

Nos primeiros dias/semanas, ir à casa de banho pode ser uma aventura. Eu bem me queria sentar na sanita mas o meu corpo recusava-se a ficar naquela posição. Aos poucos fui descobrindo que um banco para pousar a perna faz maravilhas.

3-Tomar banho

Quem conhece um terapeuta ocupacional sabe que eles são fervorosos adeptos do banho sentado sempre que é necessário reduzir o risco de queda. Desta vez tive oportunidade de experimentar. Pus um banco dentro da banheira, enrolei o joelho em película aderente e lá fui eu. Apesar de me sentir um pouco tonta, por causa do esforço, sabia que estava segura. Para entrar na banheira, o truque é igual ao que usei para entrar no carro. Sentava-me de costas e rodava as pernas para dentro da banheira. A esponja de banho de cabo longo foi também muito útil para lavar os pés.

4- Chegar às coisas

Depois de vários dias deitada, o meu sofá estava rodeado das coisas que me faziam falta. Uma manta, os comprimidos que tinha de tomar, uma garrafa de água, o livro que estava a ler, o telemóvel, o aparelho de massagens que a minha filha mais velha me ofereceu no meu aniversário (e que fez maravilhas por mim nesta fase), almofadas para a perna e para as costas, o comando da televisão… e sempre que alguém por ali passava, lá dizia eu: “podes chegar-me o meu livro?”. Até que o meu marido foi buscar uma pinça de alcance e eu, satisfeita, pude chegar a cada objecto da minha “ilha” no meio da sala. Sem ajuda!

5- Subir e descer escadas

A minha casa tem três andares. Sim, três. Os quartos são lá em cima. Nas primeiras duas noites, optei por ficar a dormir na sala. Mas depois tive de enfrentar os 18 degraus que me separavam da minha cama. Nunca tinha andado de canadianas, e muito menos experimentado subir escadas dessa forma. Como se fazia? Que pé deveria colocar no primeiro degrau?

Foi bom poder contar com alguém para me orientar. Ter a certeza que estava a fazer as coisas da forma mais segura e que não corria o risco de prejudicar a minha recuperação. Aprendi que para subir devia pôr a mão esquerda no corrimão (único lado com corrimão) e mão direita na canadiana. Coloco primeiro o pé direito no degrau que quero subir, apoio-me na canadiana e corrimão e passo o pé esquerdo para o mesmo degrau. Para descer, coloco a mão direita no corrimão e mão esquerda na canadiana. Ponho o pé esquerdo no degrau de baixo, apoio-me no corrimão e canadiana e passo o pé direito para o degrau de baixo.

6- Perceber que doses de descanso e de exercício são correctas

Antes de ser internada pensei que, quando voltasse a casa, apesar de não conseguir andar, conseguiria ler, escrever, pensar, planear, fazer contas, decidir. Foi estranho verificar que, nas primeiras duas a três semanas após a cirurgia, talvez devido à medicação que estava a tomar para as dores, sentia-me de tal forma cansada que não conseguia MESMO fazer nada. Fui sempre incentivada a descansar sem preocupações porque, como defendem os terapeutas ocupacionais, o descanso e o lazer sem culpa são uma parte importantíssima da vida. “Se estás de baixa, por alguma razão é”, ouvia todos os dias. No entanto, como vim para casa com indicação de poder fazer carga sobre a perna, comecei logo a dar alguns passos e, a cada dia que passava, andava um pouco mais. A certa altura comecei a fazer alguns exercícios e a aumentar gradualmente as repetições. O meu terapeuta ocupacional dizia-me o que e quando fazer e ajudava-me com algumas mobilizações passivas.

7- Sentir-me útil e sem culpa

Por sorte, a cirurgia aconteceu no período de férias das minhas filhas, o que significou uma redução significativa de compromissos, horários menos rígidos e mais pessoas disponíveis durante o dia para me ajudarem. Ainda assim, havia muito por fazer e, apesar de me sentir bastante atordoada, estar esticada no sofá o dia todo a pedir ajuda para quase tudo não é muito a minha praia. Passados os primeiros dias, já conseguia preparar os legumes para a sopa, fazer pesquisas úteis na internet, falar com pessoas ao telefone, escolher a roupa para a minha filha mais nova, regar o jardim (sentada). Aos poucos, fui fazendo mais coisas e sentindo-me melhor. Mesmo nos momentos de maior desânimo, quando passavam vários dias sem que visse melhorias, contei com a orientação de quem conhecia o processo de recuperação deste tipo de cirurgia e soube sempre o que era normal e o que era preocupante, o que devia e não devia fazer.

Depois de 5 semanas de baixa, estou de regresso ao trabalho. Apesar de ainda ter alguma dificuldade a descer escadas e de ainda não correr, consigo andar e fazer a minha vida quase normal. Em Setembro, espero conseguir regressar ao ginásio.  

Durante este processo, muitas vezes reflecti sobre a sorte que tenho. Quantas pessoas passam por experiências semelhantes – e muito mais graves – sem saberem que podem contar com quem as ajude e oriente em casa. Por isso, decidi escrever este artigo. Para que mais pessoas saibam que podem, e devem, recorrer aos serviços de um terapeuta ocupacional.

Boa recuperação!

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